As fantasias sexuais têm um papel muito importante em diversas fases do sexo: elas contribuem para o nascimento e para a ampliação do desejo, fazem parte da masturbação e podem estar presentes durante o sexo com o parceiro. Embora as fantasias possuam tal importância, as pessoas possuem poucas informações sobre elas e sobre o que se passa com as outras pessoas neste setor. Dois dos motivos para esta ignorância são o tabu que cerca este assunto e a pouca disponibilidade de informações confiáveis.
Neste artigo vamos examinar duas pesquisas que ajudam a responder as duas seguintes questões sobre as fantasias sexuais:
• Quais são as fantasias sexuais mais comuns?
• Homens e mulheres têm as mesmas fantasias sexuais?
A primeira destas pesquisas foi realizada na cidade de São Paulo com um pequeno grupo de pós-graduandos. A segunda foi realizada nos Estados Unidos com uma amostra representativa da população americana.
Fantasias sexuais de universitários
Há tempos atrás, orientei uma pesquisa sobre as fantasias e práticas sexuais de pós-graduandos. Este estudo foi realizado com 50 estudantes de pós-graduação de uma universidade paulista. Este grupo de estudantes era constituído por 25 homens e 25 mulheres, cuja média de idade era 29 anos. Solicitamos a eles que respondessem um questionário que continha descrições sucintas de 57 atividades sexuais. Cada estudante tinha a tarefa de assinalar a freqüência com que fantasiava cada uma destas atividades e a freqüência com que praticava cada uma delas. Vamos comentar aqui apenas as percentagens de estudantes que fantasiaram estas práticas sexuais pelo menos uma vez em suas vidas. As práticas sexuais mais presentes nas fantasias dos estudantes (90% ou mais para pelo menos um dos sexos) e as respectivas percentagens de estudantes que tiveram estas fantasias são mostradas na tabela abaixo.
Nessa tabela, as fantasias se classificam em:
• Atos que fornecem um contexto afetivo ou incluem um compromisso entre os praticantes do ato sexual. Dois dos atos que aparecem na tabela pertencem a este grupo: “Caminhar de mãos dadas com o parceiro”, “Casar-se”,
• Ambientes onde ocorrem os atos sexuais. Um ato sexual: “Fazer sexo em locais não usuais.”
• Descrição de propriedades das práticas sexuais. Dois atos sexuais: “Fazer sexo durante horas”, “Fazer sexo em posições não usuais”.
• Práticas que aumentam o desejo e a excitação (“preliminares”). Sete dos dezessete atos que aparecem nesta tabela pertencem a este grupo: “Tocar/beijar sensualmente”, “Ser sensualmente tocado/beijado”, “Beijar/acariciar o peito nu do parceiro “, “Abraçar e acariciar o pescoço”, “Seduzir o parceiro”, “Ser seduzido pelo parceiro”, “Ver o parceiro se despir-se/despir-se diante do parceiro/ despir-se mutuamente”.
• Práticas sexuais propriamente ditas. Cinco atos sexuais pertencem a este grupo: “Masturbar o parceiro”, “Ser masturbado pelo parceiro”, “Receber sexo oral”, “Fazer sexo oral no parceiro” e “Fazer sexo oral mútuo (os dois ao mesmo tempo)”.
De fato, o ato sexual mais freqüentemente fantasiado tanto por homens como por mulheres é a penetração vaginal. Este fato foi indicado por várias outras pesquisas como, por exemplo, na pesquisa americana citada mais para frente. Devido a uma falha técnica, este ato sexual não foi incluído na lista oferecida para os estudantes que participaram da nossa pesquisa.
Diferenças entre homens e mulheres
Os resultados deste estudo apontaram uma alta dose de semelhanças nas fantasias sexuais de homens e mulheres: só foram constatadas diferenças significativas entre eles em apenas 7 das 57 práticas sexuais cujas descrições constavam no questionário usado neste estudo.
Essas práticas são as seguintes:
• “Casar-se”(92% das mulheres e 64% dos homens);
• “Ser protegido pelo perigo por alguém que se tornará seu parceiro” (68% das mulheres e 40% dos homens);
• “Vestir-se com roupas/peças eróticas” (72% das mulheres e 36% dos homens);
• “Ser forçado a submeter-se a atos sexuais”(32% das mulheres e 8% dos homens).
• “Fantasias homossexuais” (44% das mulheres e 16% dos homens).
• “Assistir outras pessoas fazendo sexo” (68% dos homens e 40% das mulheres)
• “Fazer sexo com um parceiro virgem” (76% dos homens e 36% das mulheres).
Uma maior percentagem de homens fantasiam a prática de sexo anônimo. Uma percentagem maior de mulheres fantasiam atos que indicam envolvimento afetivo e comprometimento.
As fantasias onde foram constatadas estas diferenças entre homens e mulheres são coerentes com as idéias que têm sido divulgadas em publicações desta área, dirigidas para o público não-especializado. Segundo estas publicações, as mulheres são o “sexo frágil”, por isso elas fantasiam “Ser protegidas do perigo por alguém que se tornará seu parceiro” mais do que eles. Como os homens são mais “visuais”, elas fantasiam vestir roupas eróticas para exibir-se e provocar o desejo no parceiro. Como os homens gostam de sentir-se “dominadores”, elas fantasiam “Ser forçadas a submeter-se a atos sexuais”. É claro que cada uma destas fantasias também pode ser do agrado das próprias mulheres por motivos intrínsecos. As mulheres também têm mais fantasias homossexuais do que os homens; isto parece ser coerente com as normas sociais que são mais permissivas com as praticas homossexuais femininas (por exemplo, os filmes pornográficos para homens heterossexuais freqüentemente mostram mulheres transando entre si, mas, quase nunca homens transando).
Os homens, segundo este mesmo tipo de publicação, são mais visuais e gostam mais de sexo sem envolvimento. Por isso, eles fantasiam mais “Assistir outras pessoas fazendo sexo”. Eles também valorizam mais o recato de suas parceiras fixas, porque “têm menos certeza da própria paternidade do que elas”. Por isso, eles fantasiam mais “Fazer sexo com uma parceira virgem”.
Pesquisa americana sobre as práticas sexuais mais desejadas e mais indesejadas
Uma das pesquisas mais completas sobre a sexualidade foi realizada nos EUA. Esta pesquisa foi aplicada em uma amostra representativa da população americana. Uma das questões desta pesquisa tratava das práticas sexuais que eram mais atraentes para homens e mulheres, e pedia aos participantes que classificassem várias praticas sexuais como muito atraentes, atraentes, não-atraentes e totalmente não-atraentes. Vamos ver alguns dos principais resultados desta pesquisa.
• Práticas sexuais consideradas atraentes ou muito atraentes por homens e mulheres que participaram desta pesquisa:
• Homens
Sexo vaginal: 95%
Ver o parceiro tirar a roupa: 93%
Receber sexo oral: 83%
Fazer sexo oral: 76%
• Mulheres
Intercurso vaginal: 96%
Ver o parceiro tirar a roupa: 81%
Receber sexo oral: 88%
Fazer sexo oral: 57%
• Percentagens de homens e mulheres que consideraram as seguintes práticas sexuais não atraentes ou totalmente não-atraentes:
• Homens
Forçar alguém a fazer alguma coisa sexual: 98%
Ser forçado a fazer alguma coisa sexual: 97%
Sexo com um parceiro do mesmo gênero: 94%
• Mulheres
Ser forçada a fazer alguma coisa sexual: 98%
Forçar alguém a fazer alguma coisa sexual: 98%
Sexo anal: 96%
(Estas informações foram estraídas do livro: MICHAEL, R. T.; GAGNON, J. H.; LAUMANN, E. O; KOLATA,G. Sex in America. New York: Warner Books, 1995).
Conclusões baseadas nestas duas pesquisas
Em linhas gerais, os resultados desta pesquisa americana são muito semelhantes aos da pesquisa que realizamos. Os resultados destas duas pesquisas, considerados em conjunto, indicam que:
(1) as pessoas geralmente fantasiam coisas comuns;
(2) homens e mulheres têm fantasias muito semelhantes e
(3) as poucas diferenças entre homens e mulheres acontecem na direção esperada: as mulheres preferem sexo dentro de um contexto onde haja afetividade e compromisso entre os praticantes e os homens têm mais tendência para o sexo por sexo, onde há menor necessidade de afeto ou compromisso, e são mais visuais do que as mulheres (possuem mais fantasias voyeurísticas).
Quais fantasias são “normais”?
Quando se fala de fantasias sexuais, um assunto que logo vem à tona diz respeito à normalidade dessas fantasias: quais são “normais” ou quais são “imorais” ou “pervertidas”.
Cada um, é claro, tem o direito de classificar as fantasias de acordo com seus próprios valores. No entanto, de um ponto de vista estritamente psicológico, uma prática sexual só é considerada problemática quando atende ao primeiro dos critérios abaixo e a pelo menos um dos outros dois seguintes:
• Persiste por um bom tempo (geralmente por seis meses ou mais)
• Prejudica um ou ambos os participantes.
• Prejudica terceiros.
Fantasie, pratique e melhore a sua vida sexual e o seu relacionamento amoroso
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